sábado, 23 de janeiro de 2010

100

O meu avô está muito doente. Estava inchado, levei-o ao hospital, esperei 8 horas e qd voltou a casa, depois de alguns dias, caiu devido ao seu corpo debilitado pelos novos medicamentos. Partiu o fémur.

De novo para o hospital. foi operado há dois dias. Antes parecia estar mais ou menos, mas depois da anestesia (epidural) já não reconhece as pessoas, só diz coisas sem sentido... Ontem estive lá sozinho com ele. Não me reconheceu à primeira, mas quando finalmente lhe disse que era o João, bem alto ao ouvido (ele é bastante surdo), parou de olhar para o infinito, olhou nos meus olhos. Estes abriram-se imenso, a expressão mudou e disse: "Ahhh meu João,meu João..." Fiquei sem palavras... Meu coração estava com ele. Ele estava sentado numa cadeira sem se poder mexer porque as enfermeiras assim determinaram porque assim ele não adormecia e talvez dormisse de noite e deixasse as outras pessoas dormir também. O que me afligiu foi a sua expressão de dor (nas costas) por não ter um apoio lombar. Pedi uma almofada. Não haviam almofadas disponíveis naquele hospital. Pensei... Ruanda? Uganda? Haiti? Espera... Espera... Portugal!! Está explicado!
Tive de ser eu a dar-lhe o lanche e a segurá-lo nas costas para aliviar a tensão.
Finalmente vieram os enfermeiros (depois de 6 horas na mesma posição) e pediram-me ajuda para levantá-lo e levá-lo para a cama. Adormeceu instantâneamente.
Hoje mais uma visita. Sentado novamente na cadeira. Não me reconheceu desta vez. Pensava que eu era um enfermeiro. Não comeu porque fechou a boca. Falava em palha e outras coisas sem sentido. Segurei-he a mão. Ele sentiu e apertou a minha. Peço a Deus que lhe dê alguma dignidade e mínimo de sofrimento por favor!
Nasceu em 1914. No primeiro dia de internamento disse: "Só queria chegar aos 100"... FORÇA AVÔ, VAIS (pelo menos) CHEGAR!!!

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